Dia 33 - Memórias de um 16.06 e alegria em forma de chocolate!

Em junho a Mari casou. E eu tava lá. Ainda bem! Ontem, vendo as fotos do dia maravilhoso que foi o dia em que a Mari e o Felipe nos proporcionaram momentos lindos pra falar pra gente que andariam juntos pra sempre, eu fico mais feliz e agradecida ainda de ter estado lá. Fiquei horas rolando a barrinha, vendo e revendo, e toda vez que eu passava pela foto do Felipe lendo os votos dele e chorando, caía uma lágrima.

À noite, convenci o Leandro (tá, foi zero difícil) a me acompanhar até a Häagen Dazs (Rua Paiva de Andrade, 8, Chiado) para comermos waffle. Minha TPM, que tem mandado em mim nos últimos dias, estava com desejo. Pedimos um com calda de chocolate, sorvete de chocolate e framboesa. Leandro me agradeceu por ter levado ele lá ontem. Meu marido é muito engraçado. Quando ele gosta de uma coisa, ele come com uma alegria, que você fica satisfeito só de olhar pra ele. E sempre que o levo pra comer alguma coisa muito gostosa, em algum lugar que ele nunca foi, ele super agradece.

Na volta, os gordinhos resolveram andar até a Praça dos Restauradores pra pegar o metrô lá. Essa praça é super importante porque o obelisco da foto comemora a libertação do país, em 1640, quando do fim da Guerra da Restauração, depois de 60 anos de domínio espanhol. No fim da praça inicia-se a Avenida da Liberdade, que por sua vez finda no Marquês de Pombal, nosso vizinho. 

Dia 32 - As pontes entre nós

Eu e Leandro crescemos em Angra dos Reis, uma cidade no litoral do Rio de Janeiro, que fica pertinho de Parati. Essa região foi descoberta pelos portugueses em 1502, na segunda expedição deles pra cá. Só 2 aninhos depois da chegada em Porto Seguro. Essa região carrega, então, muito do estilo que a gente encontra nas nossas andanças por aqui.

O tempo todo a gente dá de cara não só com as referências do Rio de Janeiro, mas também com as lembranças da nossa infância. Um pouco de Angra, que teve sua arquitetura muito modificada ao longo do tempo, e muito do que ainda encontramos (e acredito que para sempre encontraremos) em Parati.

Meu pai tem paixão por portas e janelas e a gente não tem conta de quantas fotos ele tem de portas das casas, igrejas e prédios históricos dessas cidades. Imaginem como ele ficou louco por aqui! Quando meus pais estiveram em Portugal, eu dizia que eu e minha mãe caminhávamos sempre o dobro do que ele andava no dia, apesar de teoricamente andarmos juntos. Isso porque nós duas estávamos andando e conversando quando percebíamos que tínhamos perdido o meu pai. E voltávamos procurando ele, que estava sempre com a máquina na mão, obcecado por alguma porta.

Outra coisa que a gente sempre repara é em como as ruas são estreitas e as calçadas ridículas, principalmente nas áreas e cidades mais antigas. Em alguns lugares nem há calçada, apenas uma marca no chão que delimita o espaço do pedestre e o do carro. E temos que andar em fila indiana.

E, claro, as pedras portuguesas, que tanto nos perseguem e acabam com nossos sapatos no centro do Rio. 1001 tipos de desenhos delas. Só que aqui tem um detalhe muito importante: elas são bem colocadas. Seus saltos não ficam presos nelas e não formam poças. Vivo andando e sorrindo quando chove e eu fico lembrando de mim na Praça XV fazendo uma espécie de "singing in the rain" patético. Segundo o Lipe, meu irmão (quase) engenheiro, o que acontece é que no Brasil as pedras foram colocadas sobre uma camada de cimento e aqui diretamente sobre a terra. Às vezes eu acho que o povo aqui devia fazer umas piadas sobre a gente.


Eu já ouvi muito brasileiro falando que veio pra cá e se sentiu em casa. É fácil. Há muitas coisas que nos ligam. E eu adoro encontrar com elas por aí todos os dias.

Dia 31 - Ou menos 31

De repente fez 1 mês que a gente tá aqui. E a única coisa que a gente consegue pensar é que em menos de 30 dias a gente vai embora. A gente fala sobre isso quase todo dia. A contagem regressiva é baseada no número de fins de semana que temos até 26 de setembro. E são 4.

E tem tanta coisa que a gente ainda queria fazer. Queremos conhecer o Algarve, participar de uma vindima, voltar ao norte do país, visitar Damares, Paulo, Filipe e Cris na Inglaterra, encontrar com Paulo e Lara em Paris, matar as saudades da Dê na Suécia, ver a Helô na Dinamarca...

Além das coisas que a gente quer continuar a viver, como fazer o percurso casa-trabalho em 15 minutos, pegar o metrô e chegar onde quiser, fazer compras em mercados baratos e cheios de coisas gostosas, voltar seguros pra casa, andar por pedras portuguesas sem tropeçar.

Em meio a esses pensamentos, minha TPM me empurrou pra um momento de tristeza do qual só chocolate do bom poderia me salvar!

Leandro chegou, então, com chocolate belga e beijinhos pra cuidar de mim.

Comecei a pensar que em menos de 1 mês a gente vai conhecer o Simão, eu vou ter o colinho da minha mãe, a comida do meu pai, o carinho das nossas famílias, os risos e abraços dos nossos amigos e doce de leite com queijo minas! Agradeci  a Deus por todos os dias aqui e por todos que virão depois.

Dia 30 - Jantar dos tugas

Segunda foi aniversário do Daniel, que trabalha com o Leandro. Então, o Sérgio, outro colega de trabalho, resolveu fazer um jantar na casa dele e convidou o povo do trabalho e a agregada aqui. Pros portugueses comemorar ou sair com os amigos significa jantar. Ninguém se encontra pra beber um chopp ou beliscar uma coisinha. As pessoas se encontram pra jantar.

Chegamos na casa do Sérgio e os meninos já foram pra cozinha preparar a janta. A equipe que trabalha com o Leandro é quase toda de meninos e vários deles gostam de cozinhar. Eu acho isso ótimo. Comemos uma torta de massa folhada recheada de espinafre e pinhão, que estava uma delícia. Também serviram uma salada de folhas, cebola, tomate e carne picada (carne moída). Achei estranha a ideia, mas até que era bem gostosa. Até trouxe um pouco pra casa.

De sobremesa tinham algumas opções, mas eu vidrei numa espécie de pavê com doce de ovo. Mara!

Foram poucas as vezes que eu estive com o pessoal do trabalho do Lê, mas nessas poucas me diverti muito (quando entendi o que eles falavam). Dessa vez não foi diferente. Me diverti horrores. Ri como não ria há tempos. Não só do jeito deles falarem, mas por eles serem engraçados mesmo. Eu também não sou uma pessoa difícil de fazer rir... Eu sinto muita falta de encontros com amigos, de conversar sobre qualquer coisa, de conhecer gente nova. Foi bom provar um pouquinho do convívio que o Lê tem todos os dias.

Dia 29 - Quero passar o Natal aqui!

Acordamos e fomos tomar café, depois de ficarmos folheando os folders do hotel. Enquanto comíamos pão e queijo da Serra, a gente olhava pela janela, praquela vista maravilhosa e só pensava o quanto a gente quer voltar lá no inverno. Se já é lindo agora, com tudo branquinho então!

Subimos até Torre, o ponto mais alto da Serra, que fica a 2.000 metros de altitude e onde instalaram a estação de esqui muito visitada no inverno. Ver tudo, assim muito de cima, é tão divino. Perceber o quanto a gente é pequeno e como Deus é criativo e cheio de ideias. Adoro ficar olhando e olhando.

Descemos atrás de uma cachoeira chamada Poço do Inferno. Depois de vários km rodados, chegamos no lugar e as indicações são meio confusas. Primeiro achamos que só dava pra ir a pé. Depois que dava pra ir de carro. Percorremos um trecho e descobri na internet que a queda d'água ficava lá atrás mesmo. Voltamos, paramos o carro perto das mesinhas de pedra e subimos a escada de ferro que leva à vista.  Que perda de tempo! Praticamente não tinha água caindo e embaixo tinha um laguinho com cara de dengoso. Concluímos que a cachoeira deve existir e ficar forte mesmo na primavera, quando derrete o gelo formado nas montanhas.

Percebemos que a gente tinha que abastecer o carro com uma certa urgência e fomos até o próximo destino, a cidade de Seia, procurando um posto. Mais uma vez, já era tarde e a gente não tinha almoçado. Depois de encontrarmos o posto, paramos no primeiro restaurante bonitinho que vimos pela frente: Varandim da Serra. Lá dentro só tinha um pessoal tomando café e eu perguntei pra garçonete se ainda serviam almoço. A resposta foi positiva, graças a Deus! A mesma moça que nos atendeu e estava atendendo o outro grupo, ficava no caixa, preparou a comida e lavou a louça! É comum haver poucos funcionários nos estabelecimentos por aqui, mas essa era muito multifuncional. Comemos carne de porco, mais uma vez, com batata noisette. Tudo bom, como sempre.

Fomos até o Museu do Pão ver qual era a desse lugar. O Museu conta todo o processo da feitura do pão, os tipos existentes e também expõe capítulos da história que envolveram diretamente esse alimento, principalmente em Portugal. Mas não me impressionou.

Antes de voltar pra Lisboa, fomos até a Lagoa Comprida. Mais uma frustração. Tem uma barragem construída em quase toda a volta da lagoa. A verdade é que a lagoa existia, mas aí construíram a barragem pra poder armazenar e usar a água. E, pra mim, ficou feio. Leandro pulou o muro, igual um adolescente, e foi lá ver se dava pra mergulhar, mas a água tava muito fria e ele desistiu.

Pegamos a estrada e eu dormi quase que o caminho todo. Chegamos em casa mortos e cheios de viagens programadas para um inverno futuro.

Dia 28 - Castelo da Vide, Marvão, Piodão e Hotel Serra da Estrela

Na contramão do povo que vive no hemisfério norte, a gente resolveu subir a serra e curtir um friozinho nesse fim de semana. Seguimos em direção, então, à Serra da Estrela, a maior e mais conhecida serra do país e fica rodeada por várias outras serrinhas. É lá que fica o ponto mais alto de Portugal continental (nos Açores há ainda um ponto mais alto).

Depois de umas 2 horas rodando, a primeira cidade em que paramos foi Castelo da Vide, que fica na Serra de São Mamede, ainda na região do Alentejo. É uma vilinha fofa, cheia de casinhas brancas e ruas muito estreitas. Em algumas ruelas achei que o carro ia ficar entalado e a gente ia ter que sair pelo porta-malas! A cidade tava se preparando pra uma feira medieval, tipo de festa comum por aqui nessa época, e a gente ficou cheio de vontade de estar lá pra ver aquilo.

Subimos mais um pouco e chegamos a Marvão. A muralha do castelo cerca a cidade toda tornando o lugar uma fortaleza, o que já foi extremamente útil há uns séculos atrás, já que o vilarejo fica quase na divisa com a Espanha. O pátio interno do Castelo é muito bonito e a vista espetacular. De um lado se vê Portugal e do outro você avista a Espanha. Sensacional! A gente se empolgou tanto quando chegamos na cidade, que já fomos subindo a muralha e nos esquecemos que já era hora de almoçar. Isso é muito importante por aqui, porque na maioria dos lugares, os restaurantes fecham às 15hs e aí, se você não comeu, não come mais. Fomos desesperados atrás de qualquer coisa e acabamos só lanchando uma tosta.

Partimos pra Serra de Açor, rumo a Piodão. Depois de muitas curvas, subidas e descidas, chegamos à cidade que mais parece um cenário de filme. Daqueles que retratam os tempos medievais. Como outras vilas que vimos pelo caminho, esta fica na encosta de um morro. Sua principal característica é que todas as casas são escuras, feitas de pedras finas e sobrepostas, com telhados feitos de ardósia (!) e as janelas e portas são pintadas de azul. Há apenas uma exceção a esse padrão: a Igreja Matriz, que é branquinha com detalhes em azul. Lindo, lindo! Impressionante como um lugar assim se mantém por tanto tempo. Igual. Já era final de tarde e como estávamos bem no alto, sentimos a temperatura começar a cair. Até pensamos em procurar um lugar pra dormir lá, mas não me senti à vontade com toda aquela escuridão.

Como Portugal é um país pequeno e tem lugar interessante por todo lado, a maioria das nossas viagens a gente faz pra perto de Lisboa, em esquema de "bate-e-volta". Saímos com o objetivo de visitar algumas cidades, voltamos pra dormir e no outro dia voltamos pra estrada pra conhecer outros lugares. Mas quando a gente quer se deslocar pra mais longe, a gente acaba dormindo em algum hotel mesmo e voltamos pra casa no final do domingo. Nunca reservamos hotel antes de sair da casa. É meio arriscado, mas como tem dado certo...

Pesquisamos os valores de algumas diárias em hoteis na Serra da Estrela, através do nosso guia Eyewitness Travel de Portugal (brigada, Thica!), que tem nos acompanhado e ajudado todo esse tempo. Decidimos dormir no Hotel Serra da Estrela, que fica em Penhas da Saúde. Paramos em um restaurante no meio do caminho pra jantar e, se estávamos sentindo falta de uma refeição naquele dia, foi exatamente isso que tivemos. Eu comi bitoque que traduz-se em filé de carne de porco com ovo estrelado em cima, acompanhado de fritas, e Leandro comeu uma espetada de carnes suína e bovina, também com batatas. Eu me esqueço de como eles são bons no preparo de carne de porco. Geralmente, nas cidades afastadas da costa a especialidade gastronômica é essa. E vale muito a pena experimentar!

Chegamos no Hotel (que, aliás, foi uma ótima escolha) umas 23hs, quando já faziam 11 graus lá fora. Desejosos de uma caminha quentinha, tomamos banho e caímos nela.

Dia 27 - Queijos, cogumelos, tomatinhos e vinho

Durante o dia bati perna e no final da tarde fui encontrar Leandro pra gente passar no mercado e comprar umas coisinhas antes de virmos pra casa. Resolvemos que faríamos uma comidinha e ficaríamos aqui mesmo.

Tem uma coisa que eu adoro, mas no Brasil quase nunca como porque é difícil de encontrar e é carinho: cogumelos frescos. Então, além de pão, queijos, compramos tomates cereja e os tais cogumelos. Fica muito gostoso e outra vantagem é que é ridículo de preparar. Quando meus pais estiveram aqui, nos deliciamos com essa iguaria e eu tava com saudade.

Segue a receitinha:

- 250 g de cogumelos frescos
- 2 dentes de alho picados
- 150 gramas de bacon
- azeite
- vinho branco

Doure o alho no azeite e acrescente o bacon. Quando estes estiverem fritinhos, acrescente os cogumelos lavados e cortados (pode ser em 4) e refogue até que eles fiquem moreninhos. Depois, é só colocar um pouquinho de vinho branco pra deixar tudo ainda mais saboroso. Espere o caldinho secar e pronto!

Refogamos também os tomatinhos e comemos tudo com torradas banhadas no azeite e orégano.

Sorry por deixar vocês com água na boca de novo! 

Dia 26 - Pelas ruas

Tenho adorado as caminhadas que eu e Leandro fazemos quando ele chega do trabalho. Além de ser bom pras nossas pernas e coração, a gente tem conhecido alguns lugares novos e interessantes. Procuramos sempre fazer um caminho diferente e se perder um pouquinho. Temos visto mais ruazinhas bonitinhas, restaurantes que queremos visitar e prédios coloridos. E percebido o quanto Lisboa é maior do que imaginávamos. A gente ainda tem muita coisa pra aproveitar por aqui.

Dia 25 - Alma brasileira nas louças portuguesas

Ontem eu fui andar no Chiado pra ver se encontrava uma encomenda da minha mãe e passei pela loja da Vista Alegre, que fica próxima à praça Luís de Camões. E perdi um bom tempo lá admirando aquelas belezuras em forma de louça.

A Vista Alegre é uma marca portuguesa muito famosa e tradicional, inclusive no Brasil. Chegar aqui e lidar com os preços bem mais simpáticos dos produtos, me deixa que nem criança em loja de doce. 

Eu gosto muito das peças clássicas e adoro as modernosas. Uma das coleções mais interessantes é feita de desenhos coloridos e delicados das vistas das principais cidades de Portugal (Lisboa, Porto e Ilha da Madeira) e também de Madri. Inclui pratos, xicrinhas, bule. É lindo demais e a vontade que dá é de pendurar tudo pela casa. 

Daí que quando eu estive no Brasil, lendo uma revista de domingo, vi uma matéria sobre o lançamento das peças homenageando o Rio de Janeiro e descobri que a pessoa que desenha a coleção é uma brasileira, Beatriz Lamanna. Eu sabia que aquele colorido e aqueles traços me eram familiares de alguma forma!

Tudo começou quando ela estava na Espanha, fazendo um curso e, durante uma aula patrocinada pela Vista Alegre, retratou em porcelana branca a sua percepção da cidade de Lisboa, deixando os portugas encantados. Ela soube captar tão bem a essência dessa cidade, que eles resolveram contratá-la para desenhar a "Alma de Lisboa" e também as almas das outras cidades citadas. Ela conta que no caso do Rio, ela teve que convencer os portugueses que o boteco faz parte da cultura carioca, para poder retratá-lo em uma das peças. hihi.

Quero chorar por causa desse limite de bagagem!

Dia 24 - Música popular

Sempre que eu e Leandro viajamos de carro, a gente passa boa parte do tempo rindo. E um dos motivos principais são as rádios portuguesas. Primeiro que eu ainda não consigo conter as risadinhas quando escuto certas palavras com o sotaque deles e segundo que eles tem músicas muito bizarras, com letras estranhíssimas. E eu passo mal de rir!

A verdade é que eu sempre tive um certo preconceito quanto à música portuguesa. Quer dizer, quanto à música portuguesa que eu conhecia: o fado. Meu pai ama, mas eu nunca gostei de escutar. Nem a sonoridade nem a mensagem me tocavam de uma forma boa. Pelo contrário, me irritava.


Até que um dia... Tínhamos comprado ingressos para o show da Maria Gadú que teria aqui em Lisboa e sabíamos que haveria um show antes, de abertura, do cara que canta uma música com ela no CD novo. Imaginando que seria fado, não fizemos questão alguma de chegar na hora. Chegamos uns 15 minutos atrasados, no meio do show do Marco Rodrigues e como eu me arrependi de não ter chegado mais cedo! A voz do cara era maravilhosa e as cordas que o acompanhavam de uma beleza sem igual. Alguns fados eram até alegres e aquilo sim era um show. Quase uma peça teatral. Pronto. Opinião modificada. Hoje, o que eu sei, de tudo que eu já escutei, é que não gosto muito de fado cantado por mulheres. Mesmo quando cantado pela amada dos portugueses: Amália Rodrigues. Embora saiba admirar, não me agrada ouvir por muito tempo. Mas adoro a voz masculina interpretando esse tipo de música.

Leandro ainda teve mais uma experiência, quando os pais dele estiveram aqui, que o fez gostar ainda mais de fado. Eles foram jantar em um restaurante que tem apresentações de fado, um dos maiores atrativos turísticos dessa cidade, que é o berço do fado, o qual era cantado pelas mulheres que ficavam aqui, chorando, quando os maridos e filhos embarcavam nas caravelas, sem data pra voltar. Bom, eles se encantaram por toda a cena em que estavam envolvidos. A dona do local que ora cantava ora servia as pessoas. As participações dos clientes na cantoria. A atenção e o silêncio absoluto requisitado para a apresentação.

Quanto às rádios, a não ser as especializadas, não tocam fado. Tocam basicamente músicas cantadas em inglês (70%) e músicas portuguesas. A música pop portuguesa é muito ruim. Na minha opinião. Até agora (rs). Gosto de várias melodias, mas as letras geralmente me incomodam. Essa música, por exemplo, é de um dos caras mais populares aqui. Ele faz parte de um grupo, os Azeitonas (hahaha) e também tem uma carreira solo. Eu até gosto da melodia, mas a letra é ridícula. Poderia ser uma crônica, sei lá, não uma canção. Tem uma outra, que é da banda acima e teoricamente seria romântica, mas pra mim tá mais pra uma piada brega. Leandro até perguntou no trabalho se alguém lá já tinha chamado alguma garota pra ver aviões ou automóveis! Tô aqui ouvindo pra colocar os links e tô rindo sozinha.

Percebemos também que os portugueses gostam bastante da música brasileira e admiram muito nossos compositores. (Eu tô falando de música boa. Mas eles também gostam do que a gente produz de ruim, assim como o mundo todo tem curtido. Já perdi a conta de quantas vezes escutei "ai, se eu te pego" por aqui.) É muito comum escutarmos músicas brasileiras nos restaurantes e cafés que frequentamos. E o show da Maria Gadú que a gente foi estava lotado, não só por brasileiros, mas também de portugueses, que pediram um segundo bis emocionante, fazendo com que ela voltasse pra cantar "shimbalaiê", que nem estava no repertório do show.

Dia 23 - O amor

Eu tinha pouco mais de 14 anos quando eu conheci o Leandro. E bem no início da nossa amizade eu já pude perceber que eu gostaria de tê-lo na minha vida sempre. A gente se via quase todo dia e gostávamos muito disso. Apesar da gente ser tão diferente um do outro. Muito tempo passou e muita coisa aconteceu. Fomos vizinhos, moramos a muitos km de distância, ficamos sem nos ver meses e hoje dividimos a mesma casa. A gente mudou muito, mas uma coisa continua igual: somos muito diferentes. E a verdade é que eu gosto muito disso. Nele eu tenho o que falta em mim. E é assim que o nosso amor tem crescido. E a gente também. 

Lê, que o seu amor voe, voe e volte pra mim, todos os dias, como faz desde que a gente se conheceu. Em Niterói, em Lisboa ou em qualquer lugar do mundo, se eu tiver você, eu vou estar no meu lugar favorito: o seu abraço.

Declarações à parte, fomos comemorar nosso aniversário de namoro no restaurante que eu mais gostei de conhecer aqui: o Sacramento (Calçada do Sacramento, 40). Tínhamos estado lá uma vez, através de uma história muito louca. O local do restaurante, que já foi um Palácio, é lindo e super bem decorado. Quando chegamos eu já pedi o drink que tinha experimentado da outra vez, feito com vinho do Porto e hortelã. Um dos melhores que já tomei na vida. No prato, eu também repeti: filé de atum grelhado com pérolas (!) de legumes. É divino! Não sei porque a gente não tem o costume de comer atum desse jeito! Leandro foi de arroz de polvo, que estava bem gostoso, mas não era exatamente o que ele queria. Ele tava imaginando uma espécie de um risoto, mas esses pratos à base de arroz, por aqui são sempre cheios de caldo, meio sopinha. De sobremesa, comemos um brownie espetacular. Voltamos pra casa empanturrados! E felizes da vida, passeando de mãos dadas, como temos feito há 12 anos.

Dia 22 - Castelo de Almourol, Barragem de Castelo do Bode, Convento de Cristo e Santarém

Saímos em direção ao norte, pra conhecer o Castelo de Almourol, que fica, mais ou menos, a uma hora e meia daqui. Leandro viu na previsão que pegaríamos 34 graus. Quente pras temperaturas que a gente pega por aqui, mas tranquilo. Quando a gente chegou lá parecia que tava fazendo uns 50 graus! Um sol fortíssimo e a gente sem suar. Muito seco. Nos lembrou o Mato Grosso do Sul, onde meu pai mora.


O Castelo é interessante porque ele fica tipo numa ilha de pedras, no meio do Tejo. Mas quando chegamos lá, não foi exatamente isso que vimos. O rio estava muito baixo e em algumas partes realmente seco. Dava pra chegar no Castelo a pé, se quiséssemos e não fosse proibido. Eu tenho um nervoso de rio seco, que chega a apertar o meu coração. Parece que nessa época, que não chove, o rio fica mais baixinho mesmo, mas, pesquisando, achei um pessoal alegando que a Espanha, onde o rio nasce, anda armazenando mais água do que deveria...


Não deu pra ficar muito tempo lá tirando fotos do Castelo, então decidimos seguir nossa viagem. Saindo da cidade, porém, encontramos um restaurante e resolvemos ficar por lá mesmo. No Restaurante Almourol, nos refrescamos e comemos deliciosamente. Leandro, que já anda enjoado dos peixinhos, foi de filé com molho de natas e cogumelos e eu comi camarão. Experimentamos miga de novo, mas dessa vez feita de outro jeito, com couve, e gostamos.

Fomos conhecer a tal Barragem do Castelo do Bode, onde provavelmente existia um castelo, além de muitos bodezinhos, antes da inundação da área, pelo rio Zêreres. A reserva serve pra abastecer Lisboa, gerar energia elétrica, evitar a cheia e pro povo se divertir pescando e andando de jet ski. É bonito, mas, mais uma vez, o calor me impediu de ficar lá por mais de 10 minutos. Num batia um ventinho! E eu não tô acostumada com isso por aqui. Passar calor eu passo no Rio mesmo.


Fomos então visitar o Convento de Cristo, que fica dentro do Castelo de Tomar. Foi fundado em 1160 (!) pela Ordem dos Templários (que depois meio que se tornou a Ordem de Cristo, ambas "criadas" para proteger Portugal e seu cristianismo dos muçulmanos) e lá dentro você ainda encontra um monte de referências aos monges cavaleiros, apesar de todas as obras e reformas pelas quais o local passou. O núcleo do mosteiro é a Charola, o oratório dos templários e é lindíssimo, com pinturas e decoração bizantina. A arquitetura do lugar, no fim, virou um samba do crioulo doido com traços românticos, góticos, manuelinos, renascentistas e barrocos. O convento é muito grande e em cada cantinho parece que você tá mesmo em outro monumento. A quantidade de verde em volta deixa tudo ainda mais bonito. Amei! Ah, ainda tem um detalhe gastronômico: experimentei um dos melhores doces que já provei na vida. Beijinho de Freira. É tipo um bolinho levinho, feito de ovos, recheado com chuvisco. Delícia!



No caminho de volta ainda passamos em Santarém, mesmo sabendo que tudo já estaria fechado, mas como ainda estava dia claro... A cidade é bem bonitinha e a gente foi só observando as ruelas com o objetivo de achar a Igreja do Antigo Convento da Graça, lugar onde está enterrado Pedro Álvares Cabral (espero que eu não tenha que te explicar quem é ele). Essa igreja é uma das mais características do estilo gótico português.


Segundo Leandro, esse dia foi muito produtivo, porque fizemos tudo que ele tinha planejado, e mais um pouco. Metódico? Ele? Não, que isso!

Dia 21 - Telheiras, Quinta da Bacalhôa, Castelo de Palmela, Serra da Arrábida e Jardim de Estrela

Eita! Que título grande! Fizemos tanta coisa que dava pra dividir esse dia em 2. Mas sabia que a gente nem sente? Parece que tudo é tão fácil, perto, simples que no final do dia nem parece que fizemos tanto.

Quase sempre a gente planeja nossos fins de semana bem em cima da hora mesmo. E com esse não foi diferente. Na verdade, na maioria das vezes é o Leandro que planeja e eu estou adorando isso.

Saímos de casa em direção ao bairro de Telheiras, que não conhecíamos, para pegar o carro na locadora. Costumávamos fazê-lo aqui por perto, mas agora, por ser verão, os preços subiram muito e a única locadora que encontramos com preço razoável é essa, que fica um pouquinho longe daqui. Adorei o bairro, o carro e o café que tomamos por lá.


Pegamos a estrada e seguimos em direção à península de Setúbal,  que fica pertinho de Lisboa (uns 40 minutos), mais ao sul, com o intuito de visitar alguma adega produtora de vinhos. Paramos na Quinta da Bacalhôa, que é bem grande e conhecida, e soubemos que esse mês eles estão fechados para visitas. E além disso teríamos que ter agendado. O lugar é bem bonito e eu fiquei com vontade de conhecer mesmo. Nos informamos sobre os eventos relacionados à vindima (colheita das uvas) e decidimos que voltaremos lá em setembro. Fomos embora não sem antes comprarmos um vinhozinho local.


Subimos até o Castelo de Palmela, na mesma vila em que estávamos. O castelo é grande e bonito, mas está bem abandonado. A vista de lá é muito bonita, cheia de campos de plantação de uvas. Dizem que a primeira vez que teve gente morando nessa região foi em 310 a.C., mas o castelo foi mesmo construído pelos mouros no século X. Hoje tem uma pousada instalada em uma parte do castelo, fazendo parte de uma rede de hotéis em lugares históricos.

Descemos em direção à praia e entramos no restaurante Ribeirinha do Sado, em Setúbal mesmo. Lá eu comi uma das coisas mais gostosas que já comi na vida: almeijôas com limão. Queria mais nada! Fiquei lá, me divertindo e me deliciando, olhando pro Leandro rindo do meu gosto pela especiaria. Ele comeu filés de garoupa fritos, que também estavam bem gostosos. Experimentamos um bolinho de miga, mas não gostamos não.


Continuamos nosso passeio pela Serra da Arrábida, que é cheia de praias em sua volta. Pesquisei e parece que ninguém sabe direito da onde veio esse nome, mas há quem diga que tem origem no árabe e significaria algo como "local de oração". Gostei. O lugar é lindo de maravilhoso. E no dia que fomos tinham umas nuvens envolvendo o rio e as montanhas, que estavam surreais. Até que ficamos com vontade de descer até a praia de Portinho da Arrábida, mas o trânsito e o movimento estavam tipo Itacoatiara em janeiro, sendo que a gente teria que fazer uma trilha pra chegar até lá e além disso não encontrávamos lugar pra parar o carro. Obstáculos intransponíveis para nós.



Voltando pra Lisboa, paramos em uma plantação de uvas pra tiramos umas fotos e Leandro roubar um cacho de frutinhas. Depois fomos direto pro Jardim de Estrela. Sabíamos que haveria um evento por lá e eu queria ver isso de perto, porque parecia ser bem interessante. O evento foi organizado pela IKEA, que é uma loja sueca de móveis e coisas pra casa, que tem em tudo quanté lugar aqui na Europa. Pense numa Tok Stok com 5 mil vezes mais coisas e muuuuito mais barata. Pensou? Então, é ainda melhor! E eles resolveram montar um hotel ao ar livre no jardim, para divulgar o catálogo novo deles. Você ia andando pelo parque e encontrava camas de todos os tipos, com roupas de cama lindas e pessoas deitadas nelas lendo livros, conversando, dormindo. Muito engraçado! Além disso eles organizaram alguns workshops também, como aula de costura e oficina pra crianças. Experimentamos um cachorro quente delicioso que eles diziam ser à moda sueca: com cebola frita em cima.


Tá bom, já, né?

Dia 20 - Chá de cadeira

Por mais que eu queira, não é tão simples assim passar meses na Europa. Há algumas regras de imigração e permanência e tive que lidar com elas pra que pudesse estar aqui, com o Lê, até o final de setembro.

A parada é a seguinte: boa parte dos países da Europa fazem parte do Espaço Schengen, inclusive Portugal, e uma das regras do tratado é que os imigrantes não precisam de visto para entrar nesses países, desde que venham com o objetivo de fazer turismo e fiquem nesse Espaço por 90 dias, no máximo. De qualquer forma, não é garantido que as pessoas consigam entrar quando chegam. Cada caso é avaliado pela imigração na chegada.

Mas depois, se você se deslocar entre os países do Espaço Schengen, você não terá que se preocupar com a imigração. Exemplo: se você imigra no Espaço por Portugal, quando você for pra a França, você não terá que passar pela imigração e apresentar seu passaporte. É como se você estivesse andando por regiões de um mesmo país. Diferente será se você for à Inglaterra, que não faz parte do tratado e lá você fará nova imigração, sendo entrevistado ao apresentar seus documentos.

A questão é que mesmo que você saia do Espaço Schengen, em 6 meses, a contar da data da sua primeira entrada, você só pode permanecer 90 dias aqui. Como eu cheguei em Portugal no início de abril e fui embora em junho, minha contagem ficou em suspensão enquanto eu estava no Brasil, mas voltou a contar quando cheguei aqui, em 29 de julho. No fim das contas, o último dia que poderia ficar aqui seria dia 19 de agosto.

Como queria ficar mais tempo, assim que cheguei agendamos uma data para que fizesse uma entrevista requerendo prorrogação da minha estadia aqui. Na sexta eu estive na SEF para apresentar minhas razões e documentos. Depois de um longo período de silêncio, contas e sons de teclas do computador, meu pedido foi atendido e eu vou pode ficar até 26 de setembro. Graças ao meu bom Deus!

Já em casa, a Mari me ligou e eu fiquei tão feliz! Interajo com ela quase todos os dias. Seja pelo whatsapp, instagram ou face. Mas é engraçado como a gente sente falta de ouvir a voz de quem a gente ama, né?! O telefone foi uma das melhores coisas que o homem já inventou. Mas a internet, o Skype e o Viber são milagres divinos!

No final do dia, como sempre, assistimos minha novelinha preferida. Gosto de muitas coisas em Av. Brasil. Os diálogos (ou seriam "multiálogos"?) da família Tufão, o show de atuação da Adriana Esteves, a beleza do Cauã, os looks da Débora... Mas o que mais gosto mesmo é que o Leandro gosta e assiste comigo :)

Dia 19 - Retrospectiva: Belém

Ontem eu não fiz nada, gente. Quer dizer, eu passei o dia inteiro lendo meu livro.

E agora? E essa pressão pra eu escrever alguma coisa interessante nesse blog super acessado? rs

Tenho escrito sobre os lugares conforme vou visitando, mas tem um lugar que eu fui na semana passada e eu não falei muito, porque já tínhamos conhecido os principais monumentos na temporada passada: Belém.

Belém é um lugar não só lindo, como mega importante historicamente. Foi de lá que saíram as naus do Seu Vasco e Cia atrás de terras para descobrir e conquistar. Inclusive a nossa. E em homenagem a esse momento existe um monumento chamado Padrão dos Descobrimentos, que tem justamente o formato de uma caravela e fica posicionada de frente pro Tejo, cheia de navegadores, poetas e jesuítas.

Em frente à entrada do monumento, existe uma praça com uma rosa dos ventos enorme, expondo as rotas dos descobrimentos, os ventos, monstros da época. Lá de cima do monumento dá pra ver a rosa inteira, perfeitinha e tirar várias fotos legais. Quer dizer, isso se você não tiver 1,57. Subi lá e fiquei com tanta raiva porque o muro é super alto e eu não via nada. Desci emburrada. Eu e as crianças.


Do Padrão você avista a tão famosa Torre de Belém. Quando construída, pouco antes de 1500, ela fazia parte do grupo de fortificações que defendiam um país que era uma potência global e é toda decorada com motivos que remetem ao nacionalismo português. Antes do terremoto ela era totalmente cercada de água, mas hoje existe uma prainha colada nela.


Em frente à Torre fica um campo bem grande, onde a gente fez nosso pic-nic na semana passada e onde, no verão, rolam alguns eventos.

Junto com a Torre, como patrimônio mundial da UNESCO, está o Mosteiro dos Jerônimos. Um dos lugares mais lindos que eu já visitei. Foi encomendado por D. Manuel I quando Vasco da Gama voltou da Índia, financiado justamente pelo comércio de especiarias. O lugar é cheio de referências à navegação, animais esquisitos e plantas que nada tem a ver com a Europa. O que mais me encanta é infinidade de símbolos da arquitetura manuelina, que é uma mistura tão linda e criativa, além do cuidado que se teve com esse mosteiro especificamente. Já vimos outros parecidos, mas não tão ricos e tão bem cuidados. É muito difícil parar de tirar foto lá, principalmente quando o céu tá azul.


Por último, mas talvez o mais importante, porque de barriga vazia ninguém anda isso tudo: os pastéis de Belém. Tudo quanto é doce por aqui é chamado de pastel, assim como o de nata. O pastel de Belém é o pastel de nata perfeito. Você vai encontrar muitos deles pela cidade, mas o melhor você só encontra em Belém mesmo. O lugar parece pequeno, mas é bem grande e a fila que sempre tem, na porta e pra sentar nas mesas, anda muito rápido. Vale a pena sentar e comer o pastelzinho recém saído do forno, acompanhado de um cafezinho ou um leitinho puro (meu caso).

Boa noite, pessoal.

Dia 18 - Feriado surpresa e MNAz

A melhor notícia da semana é que teríamos um feriado em Lisboa na quarta-feira! Leandro não trabalharia e eu teria ele aqui comigo dia todinho :)


Esse dia chegou, acordamos tarde (novidade) e fomos até um museu que ainda não tínhamos visitado: o Museu Nacional do Azulejo (Rua Madre de Deus, 4, Alfama). Chegamos lá morrendo de calor porque resolvemos andar da estação Santa Apolônia até lá achando que seria pertinho. Não recomendo que o façam no verão. Achem um ônibus (nesse site) que os levem até lá.


Não tinha dúvida de que adoraria o Museu, porque qualquer coisa que envolva azulejos já é suficientemente atrativa pra mim. Mas foi muito melhor. As exposições são super organizadas e cheias de textos explicativos, iniciando com a criação do azulejo até as pinturas modernas aplicadas neles, passando pelos padrões e painéis inteiros pintados em azulejos.

E eu, que achava que azulejo vinha de azul, descobri que não é bem assim (viu, pai?). A palavra, na verdade, vem do árabe azzelij, que quer dizer pequena pedra polida e dizia respeito aos mosaicos bizantinos. A confusão se dá por conta de grande parte da produção portuguesa de azulejos ser da cor azul.


Muitos dos azulejos do século XX e XXI reconheci por já tê-los visto em estações de metrô daqui de Lisboa.


No último andar há ainda um painel imenso com a vista de Lisboa retratada em azulejos brancos, pintados de azul e expostos em uma parede vermelha, que chega a ser hipnótica. Dá pra ficar ali horas procurando as igrejas e praças e observando como eram os lugares antes do terremoto.

Antes de irmos, passamos no café do lugar pra comer uma tosta, que é tipo um misto quente, mas num pão muito melhor. No caminho pra casa passamos no Pingo Doce, que é o meu supermercado preferido só por causa desse nome, pra comprar a nossa janta. Infelizmente o dia seguinte não era domingo.

Dia 17 - Burocracia e cabelo novo

Passei a tarde inteira tratando de assuntos burocráticos pois preciso de uma série de documentos para levar à SEF, que cuida dos vistos aqui em Portugal. Como pretendo ficar até final de setembro, preciso pedir prorrogação de estadia, já que os meus 90 dias terminam no final dessa semana.

Prevendo a demora, passei na Fnac pra comprar um livrinho pra me acompanhar.  Como sou curiosa e adoro um bafáfá, fui direto no primeiro livro da saga do momento. Não é uma grande novidade e parece muito com Crepúsculo, mas foi o suficiente pra me distrair na terça-feira.

No final do dia fui cortar o cabelo, o que já queria fazer há muito tempo. Não me reconheço de cabelo grande e o meu já tava sofrido. A portuguesa deu uma zoada no meu cabelo, deixando um lado bem diferente do outro, mas eu fiquei feliz assim mesmo.

Dia 16 - Die Fremde e voltinha no parque

As Olimpíadas acabaram e eu me sinto orfã. Fiquei o dia todo ouvindo música. Descobri uma versão linda de uma música de uma das minhas bandas favoritas. Depois resolvi ver um filme que só piorou meu estado deprê.

O filme é alemão e se chama "Die Fremde" (em inglês "When we leave"). Roubei do HD do meu irmão, que tinha ouvido falar muito bem do tal filme. De início já dá pra perceber que o filme é triste. Mas é muito pior. Trata da história de uma mulher islâmica que tem um casamento infeliz e resolve voltar pra casa dos pais com o filho. Parece simples, né? Não na cultura dela.

Leandro chegou e tirou a gente de casa: eu, minha tristeza e meu mau humor. Fomos até o topo do parque Eduardo VII tirar fotos porque da última vez não tínhamos levado a máquina.

Voltamos e eu fiquei aqui aninhadinha nele, curtindo minha carência de segunda-feira.

Dia 15 - Dia dos Pais, Parque das Nações e fim dos Jogos

Mais uma vez resolvemos ficar em casa por conta das Olimpíadas. Não consigo resistir. Eu adoro esse evento! E eu tinha certeza que o Brasil ia ganhar. Ledo engano. Mais uma vez. Que dó daqueles meninos!


Depois de falarmos com meu paizinho no dia dele (me desculpem os outros pais, mas não há dúvida de que o meu é o melhor de todos!), fomos passear pelo Parque das Nações.


Em 1990 esse lugar era uma zona industrial de Lisboa. Foi completamente modificado para receber a Expo 98 através de um projeto de reurbanização, trazendo uma arquitetura contemporânea à cidade, o que faz parecer que esse lugar nem é Lisboa. Mas aí você olha o Tejo e lembra rapidinho. É lindo, mas não é dos meus lugares preferidos. É perfeitinho demais. Novinho demais pro meu gosto.





O parque conta com um pavilhão giga para exposições e uma praça enorme cheia de bandeiras de todos países. Ali também fica a Gare do Oriente, que é a estação de trem principal da cidade. Ao longo do rio encontramos diversos banquinhos e restaurantes também. Ah, tem uma outra coisa que acompanha o Tejo: um teleférico que, tenho que dizer, é ridículo! Ele liga um ponto a outro do mesmo lado do rio. Você fica lá dentro vendo a mesma paisagem o tempo todo. Não entendo muito bem. Depois eles reclamam que a gente faz piada com eles.


Um dos lugares mais interessantes dessa área é o Oceanário: uma aquário gigante com várias espécies de peixes, tubarões, raias e tartarugas. O máximo! E é uma delícia ver a alegria das crianças quando dão de cara com aquele lugar mágico.

No domingo resolvemos alugar bicicletas pra podermos explorar mais a região, que é bem grande. Geralmente não gosto de andar de bicicleta. Tenho a impressão de que um trambolho daqueles pode acabar me atrapalhando em algum momento. E acho que fica mais fácil se perder também (estranha, né?). Mas como nesse lugar é impossível se perder e a gente já conhece bem também, aceitei o pedido que Leandro fazia há tempos.

E foi ótimo! O dia tava lindo, como tem acontecido sempre, e ficamos lá até o pôr do sol.


Na volta, paramos em uma estação de metrô da qual eu sempre quero tirar fotos, mas temos preguiça de descer. Valeu a pena! A estação é ainda mais bonita do que dava pra ver da janelinha do comboio.

Chegando em casa, falamos com o pai do Lê e assistimos o encerramento da Olimpíadas. Cantei com as Spice e me emocionei com a Marisa. Quero tanto que tudo dê certo em 2016...


Dia 14 - Eric Kayser Boulanger, ouro das meninas e peixe grelhado

Agora que a gente já sabia onde era, saímos ao meio-dia pra tomar café na tal padaria francesa Eric Kayser (Rua Professor Carlos Alberto Mota Pinto, Edifício Amoreiras Plaza). E mesmo sendo tarde, eles ainda serviam o pequeno-almoço!

Pedi um brunch que vinha com baguete, ovo mexido, chá, suco e pão de chocolate e o Lê foi de croque monsieur. Tava tudo bem gostosinho, mas o melhor foi matar um pouquinho as saudades de Paris. Trouxemos pra casa uma eclair, um brownie e pãezinhos de azeitona, que estavam ainda melhores que as coisas que comemos na pastelaria.

Voltamos pra casa pra assistir o jogo de futebol masculino e o vôlei feminino, que disputavam medalhas de ouro. Tínhamos até planejado um passeio em outra cidade, mas decidimos ficar pra torcer.

Neymar e cia perderam. Pausa pra o desabafo: eu geralmente não fico com raiva quando o Brasil perde. Fico triste e com muita pena do pessoal que treina, treina e na hora H não alcança seu objetivo, seja porque outros foram melhores, ou porque se machucaram ou ficaram nervosos. A maioria dos atletas passa 4 anos se sacrificando no escuro, sem a gente nem saber o nome deles e não acho que a gente pode cobrar nada dessas pessoas. Mas com o futebol não é assim. Eu fico indignada desse povo que ganha milhões, que quer mesmo é ficar famoso e fazer propaganda. Uma medalha de ouro não tem valor nenhum pra maioria desses jogadores. Aff!

Quando as meninas perderam o primeiro set contra os EUA no vôlei, eu já estava completamente arrependida de termos mudado nossos planos. Mas elas me surpreenderam. A mim e a muitos brasileiros. Ganharam! E ganharam dos States, o que é mais gostoso (rs).

À noite, animadíssimos com a nossa medalha, fomos jantar em um restaurante que a Ju, que esteve aqui há pouco tempo, nos recomendou pra comermos sardinhas, uma das especialidades da cozinha portuguesa. Eu tô até fazendo uma pesquisa pra eleger pra mim mesma a melhor sardinha à portuguesa do país, de tantas que eu já comi.

Chegamos no Pateo 13 (Calçadinha de Santo Estevão, 13, Alfama) e esperamos por uma mesa. As mesas são distribuídas entre grandes e pequenas na calçada embaixo da árvore que fica em frente do que seria o restaurante propriamente dito. As pessoas passam pelo meio do "salão" indo pra suas casas. Pra quem é carioca dá uma sensação de "eu já vi disso em algum lugar". Enquanto aguardávamos, conversamos sobre o quanto Lisboa parece com o Rio, o quanto várias situações nos são tão familiares.

Sentamos ao lado de um casal e estávamos tão perto uns dos outros, que parecia que sentávamos na mesma mesa. Sabíamos que tudo que falássemos seria ouvido por eles e vice-versa. Às vezes falar português em Portugal não é tão legal assim.

Pedi minhas sardinhas com batatas e Lê foi de peixe espada, porque ele "não come iscas". Enquanto conversávamos, em algum momento, o cara da mesa do lado perguntou: "vcs são brasileiros?" e o que tava achando ruim se tornou a segunda melhor coisa da noite, depois do peixe.

Conversamos um monte sobre as nossas vidas, realidades e rotinas. Ele, português, trabalha com hotéis e vinhos e vive indo ao Brasil fazer negócios. Ela, francesa, mora em Milão e fala português, que aprendeu com brasileiros na Itália (ela entendia muito mais o que a gente falava do que o que o português dizia). Fofos de tudo!

Ele falou do quanto ficou maravilhado na primeira vez em que esteve no Rio e nós falamos do quanto estamos gostando de Lisboa. Eles também perguntaram muito sobre a violência do Brasil, se é verdade o que falam, se já nos aconteceu alguma coisa. E como é difícil falar sobre isso com quem não é carioca.

Os peixes estavam deliciosos (foi a melhor sardinha que comi até agora!) e a conversa mega agradável. Só fomos embora porque literalmente tiraram as nossas mesas da nossa frente. Não tô brincando! Adorei ter conhecido Ilana e Bernardo, cujos nomes só descobrimos no final. Não sei se eles eram tão legais assim ou se eu tô carente de conversar com pessoas e fazer amigos, mas me arrependi muito de não ter trocado contato com eles.

Voltamos pra casa super felizes com o nosso dia!

Dia 13 - The Great American Disaster

Não é nenhuma novidade o fato de que a culinária portuguesa é uma das melhores do mundo e brasileiros sabem bem disso, afinal em casa comemos muito da influência dos portugas. Mas foi sim uma surpresa pra gente o quanto a gastronomia portuguesa é boa aqui em Portugal. Porque a gente tem mania de incrementar os pratos, acrescentar nossos temperinhos e achei que aqui o negócio seria um pouco mais sem graça. Pelo contrário!

É certo que aqui comi os melhores frutos do mar da minha vida e algumas carnes que me fazem aguar só de pensar. Sem falar no pão, no azeite e nos vinhos... E as uvas? Maravilhosas!

Falando em frutas, antes que eu me esqueça: beba suco de laranja em Portugal! É sempre delicioso. Voltei à minha greve de coca-cola depois que experimentei o suco daqui. Aliás, suco não. Aqui é sumo.

Outra coisa muito comum por aqui são as casas de sopa. Em qualquer praça de alimentação tem alguma lojinha que é especializada em sopas, que podem vir acompanhas de um prego no pão ou uma bifana. Prego é um sanduíche de carne de vaca e bifana é de carne de porco e um molhinho apimentado especial.

E os doces? Deixa pra lá! Outro dia trato só disso.

Eu ficaria horas falando sobre essas delícias, mas esse assunto vai voltar muitas e muitas vezes por aqui, já que um dos nossos programas preferidos é comer!


Na sexta a gente tava com vontade de comer uma coisa diferente, meio junkie e como tínhamos descoberto uma lanchonete aqui por perto, resolvemos testar. Fomos no The Great American Disaster (Praça Marquês de Pombal, 1, sobreloja).


O ambiente é de um diner americano dos anos 50 e o cardápio é todo engraçadinho. O hamburguer é gigante, mas a carne não é lá essas coisas (confesso que fiquei muito exigente depois de provar um hambuguer feito por um dos nossos amigos, Cesinha). Pretendia experimentar o cheesecake, mas não conseguimos. De qualquer forma, valeu pela fofura do lugar, pela batata frita e pelo suco de laranja, que estavam uma delícia!

Dia 12 - Medalha de prata


Quase todo dia eu falo com a minha amiga, Mari, que mora longe de mim há muitos anos e mais longe ainda nos últimos 2.


A gente conversa sobre tudo. Sobre a nossa infância e adolescência, sobre o trabalho dela, seu namoro, nossas famílias, amigos, a vida em Nova York e a vida em Lisboa.

Ela fala que apesar da dificuldade em estar longe das pessoas que ela ama, pelo novo amor e toda a estrutura que ela encontra por lá, a Mari tem planos de construir seu futuro em NY mesmo. Muitas vezes ela pensa em desistir, mas ainda acha que vale a pena continuar por lá.

A gente fala da nossa vontade de viver mais um tempo em Lisboa e de como nos sentimos privilegiados em podermos voltar pra casa a uma da manhã de metrô, sem achar que qualquer pessoa que cruze o nosso caminho possa nos causar algum tipo de mal.

Mas no final do dia, os nossos corações batem forte  e acelerados por um motivo em comum: duas pessoas disputando, através de um jogo, com todas as suas forças, uma medalha de ouro pro nosso país. E dá uma tristeza porque a medalha conquistada foi de prata.

Dia 11 - Baixa e dots

Saí pra comprar filmes para minha Dianinha e aproveitei pra dar umas voltas pela Baixa, onde fica a loja da Embaixada Lomográfica de Lisboa.

Também chamada de Baixa Pombalina, por ter sido edificada pelo Marquês de Pombal após o fatídico terremoto (sim, ele de novo...), é formada por ruas retas e perpendiculares, sendo a principal delas a Rua Augusta, onde fica o Arco Triunfal da foto acima.

Um dos pontos principais, pra onde converge grande parte da horda de turistas que chega a Lisboa todos os dias, é a Praça do Comércio ou Terreiro do Paço. Esse espaço beira o rio Tejo e é muito usado pra eventos culturais e shows.


O palácio dos reis de Portugal era ali antes do terremoto e depois deste, com a reconstrução, foram feitos os prédios hoje existentes que circundam toda a praça e abrigam alguns dos Ministérios do Governo Português.


Outro lugar interessante por ali, na própria rua Augusta, é o MUDE - Museu do Design e da Moda, que foi uma surpresa positiva pra mim quando estive lá, em maio. Não dava nada por ele, afinal não vejo muito de moda em Lisboa e realmente não achei que o museu fosse me dar uma visão diferente da que a cidade me dá, mas como era de graça e eu não tinha nada pra fazer...  a verdade é que o museu é uma graça, pequeno e cheio de explicações, o que não é comum nos museus por aqui. No primeiro andar fica uma exposição permanente de itens de design que se tornaram marcos históricos entre roupas e móveis. No segundo andar ocorrem as exposições temporárias e quando eu fui podermos ver criações de estilistas portugueses. Gostei muito.

Limitando a Baixa, no lado contrário ao rio, estão as Praças do Rossio ou Praça D. Pedro IV (de Portugal, o nosso D. Pedro I), onde fica a estação ferroviária do Rossio, um prédio super bonito, e também a Praça da Figueira.

Na volta passei pela H&M e revirando as araras da nova coleção que, pra mim está bem melhor que a passada, me deparei com uma saia linda e cheia de bolinhas. Tô completamente apaixonada por ela e louca pra usar!